As usinas solares flutuantes já são uma realidade, mas no Brasil a utilização delas como forma complementar ainda não possui escala comercial, mesmo com projetos-pilotos que podem gerar resultados imediatos para as hidrelétricas
Não fosse a pandemia, talvez o Brasil estivesse neste momento, mais uma vez, às voltas com o racionamento de energia. Períodos secos acima do normal têm ocasionado baixas históricas nos reservatórios hídricos do país.
De acordo com dados do setor, o índice dos reservatórios do SIN de novembro do ano passado a março deste ano foi de 39.797 GWmed, o pior dos últimos 50 anos, e a energia armazenada nos reservatórios do SE/CO estava em apenas 35,62% da capacidade.
E o que o Sistema tem feito para contornar o problema? Por enquanto, coloca seus esforços sobre a ativação emergencial das termelétricas, a despeito de uma discussão mais aprofundada e urgente em torno da regulamentação da hibridização das fontes de energia.
O processo em discussão aguardado pelo setor permitiria, por exemplo, atrair grandes investidores na hibridização das hidrelétricas, aumentando sua capacidade produtiva em mais de 17% a partir da construção de usinas solares flutuantes em todo o parque hidrelétrico existente hoje no Brasil.
As usinas solares flutuantes já são uma realidade, mas no Brasil a utilização delas como forma complementar às hidrelétricas ainda não possui escala comercial, mesmo com projetos-pilotos que já demonstraram que podem ser implementados de forma rápida e, assim, obterem resultados imediatos para as hidrelétricas, permitindo a redução imediata da evaporação dos espelhos d´água e o aumento – em mais de 17% – da capacidade de geração de energia a partir da combinação e sinergia dos dois métodos: hídrico e solar.
Placas fotovoltaicas sobre a lâmina d’água limitam a evaporação em até 70% na área coberta e inibem a proliferação de algas, outro problema enfrentado pelas hidrelétricas. E ainda haveria mais um impacto positivo: a cada MW implantado são criadas 25 vagas diretas de trabalho.
O caminho para viabilizar a transformação do nosso parque hidrelétrico já foi iniciado e está nas mãos da Aneel. Depois da abertura do processo, em outubro do ano passado, a diretora e relatora da agência reguladora, Elisa Bastos, defendeu publicamente, em maio, a importância da regulamentação para a energia no Brasil. O processo parou, mas a expectativa é que em breve avance.
A hibridização hoje é permitida, mas sem uma regulação própria o negócio se torna pouco atraente para investidores e quase proibitiva financeiramente. Da forma como é atualmente, o investidor precisa contratar a capacidade máxima do empreendimento, mesmo que só use parte dele, por um período do dia.
Se por um lado o país perde um tempo precioso no caminho para o processo de hibridização das suas fontes de energia, por outro, em meio à crise energética, coloca a mão na massa para correr com novos leilões de termelétricas, sem que haja uma preocupação com o meio ambiente.
A geração de energia limpa não está no centro das discussões. Assim, abre-se caminho para o retrocesso, impondo ao consumidor brasileiro as soluções das térmicas, que além de não serem uma alternativa de fonte renovável, ainda custam caro, pois são movidas a combustível, óleo e gás, para gerar energia.
O primeiro reflexo da opção do governo pelas termelétricas já pode ser sentido pelo consumidor que, em maio, viu subir a bandeira vermelha em suas contas.
Luiz Piauhylino Filho é especialista em legislação internacional na área de energia e sócio da Sunlution e da KWP Energia